31 August 2008

Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.


Pablo Neruda

2 comments:

Anonymous said...

Olá... Passei por aqui e gostei! Aproveitei para ler todos os posts, mas chegando a este tive de comentar:

"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve musica, quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeçou e sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando esta infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua ma sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de inicia-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Morre lentamente..."

Este excerto fascina-me... Motivo?!
Have no idea!

Luis

uva trincada said...

olá luís anónimo :)

é sempre estranho saber que pessoas que não conheço pessoalmente andam a vaguear pelo blog e a ler um dos lados da minha vida, ainda bem que gostaste!
gostei muito do excerto que deixaste.. eu tento fazer tudo para não morrer lentamente, mas nem sempre é fácil. é necessária uma luta, não.. não é bem uma luta. mas um despertar constante. um autodespertar constante.
enfim :)
orbigada pelo comentário!