Rêve Oublié
Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te dar-te vida eterna
Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
Continuar a viver até cristalizar entre neve
Continuar a contar a lenda duma princesa sueca
E depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar a vida pelos dedos e perdê-los
Contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
Contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
E depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se a janela para entrarem estrelas
A rir-se a luz para entrarem olhos
Abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
E depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
António Maria Lisboa
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